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8 de outubro de 2008

Troca-se preconceito por medalha*

A realidade pra lá de olímpica nas ruas de Belo Horizonte


Brasil campeão: Daniel Dias,
um grande vencedor em Pequim 2008
(Foto: Ag. Efe)

Há três semanas a China apagou a tocha dos Jogos Paraolímpicos de Pequim, registrando 47 medalhas e a nona posição para a delegação brasileira, no mais expressivo resultado brasileiro desde a primeira participação, em 1972, na cidade alemã de Heidelberg. Para nossos atletas, a palavra de ordem foi superação. Superaram a falta de patrocínio, dificuldades com as confederações brasileiras, mudanças de última hora nos critérios que identificam as categorias pelo grau de deficiência e, acima de tudo, superaram o preconceito. Esse mesmo preconceito que transita veladamente pelas ruas e mentes. Se para um atleta paraolímpico o preconceito ainda é uma realidade, o que falar do cidadão comum numa cidade como Belo Horizonte ?


Paraolimpíada urbana

Diariamente, pessoas com variados graus de deficiência praticam o Cross Country, desviando-se de obstáculos físicos e conceituais, driblam a ausência de bom-senso e lutam contra a ignorância. Segundo agentes sociais e especialistas, ainda falta muito para que a cidade atenda os paraatletas do cotidiano.

Eliseu diz que adaptação da cidade ainda é insuficiente
(Foto: AC)

Para Eliseu Ferreira da Silva, coordenador de esportes da Associação Mineira de Paraplégicos (AMP), a situação melhorou, embora ressalve que “apenas o hipercentro está adaptado, mas a cidade deve ser preparada como um todo”. Ferreira também pondera que a divulgação dos Jogos Paraolímpicos ajuda a diminuir o preconceito, embora os resultados ainda fiquem muito distantes do ideal. Ele diz que “na década de 1980, um cadeirante no supermercado era objeto de espanto. As crianças, curiosas, aproximavam-se da gente e puxavam assunto, enquanto as mães procuravam afasta-las, deixando a impressão de existir um certo medo, como se houvesse algum perigo de contágio. Hoje, não. Já sentimos que as pessoas evoluíram um pouco mais”.


Sementeiras de ações

Na quadra de futebol, André, Rafael e Carlos Eduardo, portadores de deficiência mental, comemoram cada jogada bonita, cada gol. Mesmo que seja do adversário, no melhor estilo do barão de Cobertin, criador da olimpíada moderna e da afirmativa “o importante é competir”. André, o artilheiro que trabalha numa empresa de Betim, afirma que “o futebol no final de semana é show, vibração e emoção. É tudo isso”.

Rafael, André e Carlos Eduardo: evoluindo com o esporte
(Foto: AC)

Os três amigos praticam o esporte na Crescer – Escola de Futebol Especial, criada há dois meses numa quadra alugada pelo psicólogo Evandro Gouvêa e os amigos: o professor de Educação Física Luiz Fernando Gomes e o orientador esportivo João Antônio. “O que a gente faz é promover a inclusão deles. Trabalhamos limites, comportamento social e uma série de fatores paralelos ao estritamente físico. É uma batalha diária contra o preconceito”, reflete Evandro.


Soldado da mesma luta, a professora Regina Félix Silva, diretora de uma escola pública no bairro Taquaril, liderou uma verdadeira revolução no espaço físico da instituição. “A escola não é minha, dos professores ou do poder executivo. Ela é de todos e deve estar preparada para todos, sem restrições físicas ou preconceitos que atrapalhem o bom desenvolvimento dos alunos e alunas”, declara a diretora que substituiu escadas e arquibancadas por rampas de acesso, reformou banheiros dotando-os de boxes especiais para deficientes, providenciou um elevador para cadeirantes, eliminou ressaltos no chão e aumentou a largura das portas para facilitar o acesso aos novos espaços: um centro de informática e um auditório multi-uso.

Regina constrói na escola as medalhas de Londres 2012:
"garantir o futuro a partir do presente"
(Foto: AC)

“Quem exerce função pública deve preocupar-se em atender a população da melhor forma possível. Não é concessão: é a obrigação profissional, moral e social em garantir o futuro a partir do presente”, ressalta Regina, sem perceber que seu pensamento reflete o desejo de afirmar a cidadania, eliminando qualquer entrave que possa significar exclusão, garantindo hoje, já, as medalhas que virão nos Jogos Paraolímpicos de Londres, em 2012.


Serviço

Associação Mineira de Paraplégicos - AMP
Avenida do Contorno, 2655 – Santa Efigênia
Telefone: 3241-5294
E-mail: amp_minas@ig.com.br

Crescer – Escola de Futebol Especial
Rua São Manoel, 197 – Floresta
Telefone: 3347-0791 e 9347-1857
E-mail: crescer.especial@gmail.com


Escola Municipal Professora Alcida Torres
Rua Álvaro Fernandes, 144 - Taquaril
Telefone: 3277-5623

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(* Matéria originalmente produzida para o Jornal Edição do Brasil)


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