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10 de dezembro de 2008

Ladrão de mulher *

Festival internacional envolve BH na Semana do Palhaço


Entre os dias 5 e 13 de dezembro, Belo Horizonte vive o Palhaçadas em Geral - Encontro Internacional de Palhaços, uma grande confluência recheada de apresentações públicas (e gratuitas), oficinas e debates, criado em parceria pelo Circo Volante e pelo grupo Teatro Andante. Utilizando, sobretudo, espaços públicos para a realização dos eventos, como a Praça Sete (centro), a Praça Duque de Caxias (bairro Santa Tereza), o Cine Santa Tereza, o Ideal Café Teatro (ambos em Santa Tereza) e o Teatro Sesi/Holcin (bairro Santa Efigênia), o Palhaçadas em Geral aproveita o mês de dezembro para trazer palhaços de outros estados e países – Espanha e México – e comemora aqui o Dia do Palhaço, que ocorre em 10 de dezembro.

Pipoca e picadeiro...
(Foto AC)

Essência do palhaço.
(Foto AC)

Corredor de palhaços

De acordo com o organizador Marcelo Bones, sociólogo, professor, ator do Teatro Andante e também o Palhaço Grande Cello, o sonho do evento Palhaçadas em Geral surgiu a partir de um encontro nacional chamado Anjos do Picadeiro, criado há 10 anos, em São José do Rio Preto (SP), pelo grupo Teatro de Anônimo. A versão 2008 do Anjos do Picadeiro, por coincidência, foi realizada no Rio de Janeiro e terminou nesta semana. Assim, segundo Bones, criou-se um corredor de palhaços entre Rio, BH e Mariana, onde ocorrerá o encontro final envolvendo o Palhaçadas em Geral, o Anjos do Picadeiro e o grupo Circo Volante, de Mariana, nos dias 14, 15 e 16 de dezembro. “Vamos buscar o debate entre a arte do palhaço, a cultura e a sociedade”, afirma Marcelo Bones que além de tudo é criador do projeto Meu Palhaço, que busca depoimentos de palhaços contemporâneos de todos os tipos: palhaços de festa, televisivos, de circo e de rua. “Atualmente existe uma efervescência da arte do palhaço, o que é muito interessante sob o ponto de vista da função do palhaço, que vem na contra-mão desse mundo caótico e individualista", explica Bones que também costuma dizer que “o palhaço tem uma licença especial para falar daquilo que as pessoas não podem, as coisas que não são ditas”.

Marcelo Bones, organizador e também...
(Foto AC)

O palhaço Grande Cello
(Foto AC)

O festival é realizado quase sem dinheiro. A única disponibilidade surgiu por meio de um edital da Caixa Econômica Federal, no qual foi captado algum recurso financeiro. Fora isso, tudo é voluntário: organizadores, ajudantes, equipamentos emprestados, a prefeitura, que cedeu o Cine Santa Tereza e muito suor de uma gente que luta para agregar a tudo um sentimento de amor pela arte.

Invasão de palhaços no centro de BH
(Foto AC)

A emoção que não dá para explicar
(Foto AC)

Palhaços todos os dias

Quando surgiu o palhaço é assunto de muita controvérsia. Aceita-se a versão de que teria surgido há mais de 5.000 anos, na China, com a função de bobo da corte. “O palhaço ladrão de mulher é a encarnação da função libertária. Aquele que provoca reações que deixam marcas”, filosofa Bones. Ele garante que a comunicação direta com os nossos desejos humanos faz com que a presença marcante do palhaço seja sempre evocada. Quer seja no mundo contemporâneo, quer seja no mundo de nossas recordações.

O palhaço convoca...
(Foto AC)

O respeitável público responde...
(Foto AC)

E participa: catarse da interseção
(Foto AC)

Vamos tentar ? Arrelia, Carequinha, a turma do Bozo, o palhaço Popó (Tv Horizonte) e tantos outros. Além, é claro, do inesquecível Carlitos, de Charlie Chaplin, e dos nossos atores cômicos, como Renato Aragão, Mazzaropi e Oscarito. Quais sentimentos esses nomes lhe provocam ?


Para Igor de Souza Silva, de 10 anos, a Praça Duque de Caxias virou um mundo de sonhos. Igor já havia assistido espetáculos nos outros dias: “Parei a bicicleta, as brincadeiras, parei tudo, só para rir muito. Acho que deveria ter palhaços aqui toda semana, todo dia”, diverte-se o garoto, morador do Abrigo Belo Horizonte, encantado pelos palhaços.

Igor largou a bicicleta.
(Foto AC)

As crianças largaram tudo.
(Foto AC)

O mundo parou em Santa Tereza: palhaço todo dia.
(Foto AC)

Arte como libertação

Palhaços como o Pindaíba, que divertiu o público com grande irreverência e muita sensibilidade. Pindaíba, aliás, o antropólogo e ator Tiago Araújo, ativo na organização do Palhaçadas em Geral, afirma que o palhaço é um tipo de código para falar da diversidade dentro de uma atuação cômica.

Pindaíba: "Brincar na rua é legítimo, artístico e poético".
(Foto AC)

O sorriso de Pindaíba para o Brasil...
(Foto AC)

E a careta de desdém para quem gera nossas mazelas.
(Foto AC)

“O palhaço ficou durante muito tempo ligado ao circo, porém atores e diretores reencontram hoje, nessa figura teatral, a característica do improviso sobre um repertório, de forma mambembe”, define Tiago. E vai além, “se você quiser – com aquilo que você tem e do jeito como você é – sair para brincar na rua, é legitimo, é artístico e é poético. E você tem direito. É isso que a gente deve estimular: a arte como libertação, na qual você tem a oportunidade de se entregar”, convoca o palhaço Pindaíba, de forma humanística e envolvente que só não é mais completamente feliz, segundo ele, pelas coisas negativas que atrapalham o Brasil, como a situação social e a internacionalização dos nossos minérios.


Mais imagens do Palhaçadas em Geral

Encontro Internacional de Palhaços


Bastidores: Popó
(Foto AC)

Em cena: Cia. El Indivíduo
(Foto AC)


Florisa e Zuleiko nos bastidores do palco
da Praça Duque de Caxias (Santa Tereza)

(Foto AC)

Benedita e Sabonete fazendo graça
(Foto AC)

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(* Matéria originalmente produzida para o Jornal Edição do Brasil)