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25 de agosto de 2008

Pioneirismo e muita carpintaria *
O 'ensaio corrido' do Net


Desbravadores, empreendedores e aventureiros de todos os tipos vêm de longe. Trazem material de construção e variadas mercadorias para mascatear na mais nova capital da jovem república: Bello Horizonte.

O casarão de 1904: empório, mascates e comunicação
(Foto: divulgação Net)

Antes da longa aventura do regresso, uma parada no empório que funciona no andar térreo do amplo casarão, na esquina da rua da Bahia com rua dos Timbiras, para guarnecer os alforjes com os víveres imprescindíveis ao retorno. Ali os homens proseiam, transmitem idéias e histórias.


Túnel do tempo

Tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal desde 2000, o imóvel segue a vocação e continua sendo um pólo disseminador da comunicação. Será que, olhando a antiga fotografia, as irmãs Daniela, 10, e Maria Francelina Alves, 9, pensam nisto agora ? Exatamente agora, no momento em que fazem a inscrição para o curso de teatro infantil ? “A Maria é tímida, não queria. Eu e mamãe insistimos com ela, depois que vimos a propaganda do Net na Tv”, conta Daniela, em meio a um sorriso interminável.

No casarão, os sorrisos de Maria Francelina e Daniela Alves comunicam

(Foto: AC)

O cheiro é de teatro, alunos e alunas transpiram teatro e parece que à qualquer momento soará a terceira campainha anunciando a abertura da cortina e o início da função. As grandes salas têm hoje palcos e espaço suficiente para abrigar vários praticáveis (sólidos geométricos multi-funcionais) que serão, na imaginação e no exercício diário da arte teatral, tudo o que as meninas imaginarem ser. Daniela e Maria são duas, entre os mais de 600 alunos e alunas do Net – Núcleo de Estudos Teatrais, fundado em 1980 pelo ator, diretor e professor José Márcio Corrêa.

Mais de 600 alunos matriculados
(Foto: divulgação Net)


Ásperos tempos e a luz no fim do túnel


Aos 48 anos, José Márcio conversa sobre o Net com um carinho especial. “Temos quatro cursos: iniciação teatral, curso extensivo, teatro infantil e curso de férias. Variadas faixas etárias misturam-se, interagem, trocam experiências. Desde os pequenos de seis anos até a turma da terceira idade. Quase todos os professores e professoras formaram-se aqui”, orgulha-se Corrêa.

E, realmente, há motivo para orgulho. Márcio foi tomado pelo teatro ao ser convidado para participar de uma montagem de Morte e Vida Severina, um auto clássico de João Cabral de Melo Neto. Desde então o teatro e a formação teatral tornaram-se o moto da vida do ator. É com emoção que ele explica a razão de ser da escola: “Um lugar onde a gente possa ensinar teatro, fazer teatro, difundir o teatro em todas as suas manifestações”.

José Márcio Corrêa: "Ensinar teatro, fazer teatro, difundir teatro"
(Foto: AC)

José Márcio realizou o sonho pelo qual luta desde 1980, em espaços emprestados, alugados, até conseguir o casarão histórico de 1904. Atualmente o Net também conta com um teatro para 150 pessoas. “A gente deu duro numa época em que até para encenar um texto era necessária a aprovação da censura. Os artistas eram discriminados, ter uma escola de teatro, então...”, diverte-se o diretor ao relembrar a época árdua. A escola superou as dificuldades e atravessou o tempo. São 28 anos de Net. Só a peça Quem rir por último é retardado, em cartaz há 12 anos, atraiu cerca de um milhão de espectadores pelas mais de 100 cidades por onde passou. É o grupo A turma do quem ri, formado dentro do Net, assim como artistas e celebridades de expressão nacional: Gorete Milagres, Jackson Antunes, Natália Guimarães, Alberto “Big Brother 7” Cawboy, Totonho (da dupla de atores e humoristas Cajú e Totonho), os irmãos César Menotti e Fabiano e Daniel de Oliveira, entre tantos outros talentos, incluindo-se aí profissionais de variadas áreas que percebem no teatro um diferencial para a atuação diária, como jornalistas e apresentadores, por exemplo. “O teatro é mais que palco, luz e visibilidade. Muito mais que fama. É troca, desenvolvimento da criatividade, comunicação, expressão, socialização e cultura. Todas as pessoas deveriam fazer teatro como forma de aprimorar a convivência. A vida seria bem melhor. O que é vivido no teatro, leva-se por toda a vida”, garante José Márcio Corrêa.

Teatro além da fachada, para as irmãs Alves
(Foto: AC)

As meninas ? Continuam encantadas. Sonham com Pluft, Maroquinhas, cebolinhas raptadas, bruxinhas boas e cavalinhos azuis. Cada vez maiores, os sorrisos já iluminam e contagiam a secretaria da escola. As fichas de inscrição estão prontas e as irmãs Alves só querem começar, sem perceber que já o fizeram. A partir de agora há muito o que andar. Sim, há Maria Clara, mas há também Gil Vicente, Martins Pena, Vianinha, Moliére, Ibsen, Stanislavski, Guarnieri, Boal, Pirandello, Zé Celso... Muito prazer, serão apresentadas à Cacilda, Bibi, Dulcina, Ziembinski, Mme. Morineau, Rossi, Procópio e Sérgio Brito. O mundo, meninas, abriu as portas; digam baixinho (e em francês, para não assustar a ninguém que não seja do meio): merde !, e fiquem à vontade.


Serviço

O Net – Núcleo de Estudos Teatrais – funciona no bairro de Lourdes: rua dos Timbiras, 1605, esquina com rua da Bahia.

Telefone: 3222-1010

Site: www.teatrodonet.com.br

Os cursos custam, em média, R$ 59,00


(* Matéria originalmente feita para o Jornal Edição do Brasil)

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