João Hélio
foi trucidado.
Deus morreu ?
O niilismo (do latim nihil, o nada) do final do século XIX levou Nietzsche à percepção de que o mundo ocidental transpirava falência de valores. Tudo é banalizado diante da impossibilidade de transformar o ruim, de reaver idealismos. Nietzsche tinha razão ao proclamar a morte de Deus ?
Crime sem castigo
Na quarta-feira passada, um crime no bairro de Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, atingiu em cheio a alma brasileira. Após dar “voz de assalto” (tempos de inversão de valores) a uma motorista, um grupo tomou-lhe o carro. Após presos, os suspeitos tentam eximir-se de culpas utilizando velhas estratégias. Tudo seria trivial, mais um assalto seguido de roubo. Notícia de jornal de bairro, não fosse a barbárie cometida contra João Hélio.
Crime sem castigo
Na quarta-feira passada, um crime no bairro de Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, atingiu em cheio a alma brasileira. Após dar “voz de assalto” (tempos de inversão de valores) a uma motorista, um grupo tomou-lhe o carro. Após presos, os suspeitos tentam eximir-se de culpas utilizando velhas estratégias. Tudo seria trivial, mais um assalto seguido de roubo. Notícia de jornal de bairro, não fosse a barbárie cometida contra João Hélio.
Preso ao cinto de segurança, pendurado no lado de fora do carro, o menino de seis anos foi arrastado sobre o asfalto por sete quilômetros do subúrbio carioca. Morreu como um mártir da (falta) de segurança pública. Nem os rogos da mãe desesperada foram suficientes para comover àqueles a quem nada comove. Se condenados, os suspeitos cumprirão cada um, no máximo, 30 anos de reclusão, sem contar com as possibilidades de redução da pena.
A indignação não pode ser sazonal
A cada novo crime repulsivo, uma onda de manifestações sacode a sociedade. São notícia por algum tempo. Comovem. Vendem jornal e elevam índices de audiência. Entretanto não resolvem e acabam caindo no esquecimento.
Não nos comovemos mais ? A impressão é de que nada nos afeta se não nos atingir diretamente. Nem o tráfico de drogas com características estruturais de grande empresa, nem a transformação de parte das instituições de segurança oficiais do Rio de Janeiro em milícias, nem o inexplicável abuso de poder no caso da Favela Naval em São Paulo, tampouco o massacre de crianças no bairro Taquaril em Belo Horizonte (alguém ainda se lembra ?) ou o ex-deputado que serrava desafetos.
O crime institucionalizou-se. Marginais legislam, julgam e, como no caso do massacre do jornalista Tim Lopes, executam. Literalmente. É impossível discordar do jornalista (entre outras tantas ocupações) Millôr Fernandes: "O crime está na esquina e a justiça mora longe."
Sem esperança, prevalecerá o niilismo que, de tanto desvalorizar os caminhos humanos, acaba desvalorizando a própria existência, transformando-a em dor sem sentido. Talvez possa ser verdadeira a afirmação do filósofo, e Deus tenha morrido, deixando a humanidade órfã de Sua ideologia.
Talvez não: Oxalá nem todos aceitem a banalização da perversidade como meta última da existência e resistam.